Publicado por Redação em Curiosidades

Uma pesquisa finalmente demonstrou que já sabíamos: As mulheres são ótimas em 'noções espaciais'


Existe um estereótipo persistente que diz que os homens são melhores que as mulheres quando se trata de 'noções espaciais

Girar mentalmente um objeto, calcular a melhor a maneira de fazer um móvel grande caber num corredor estreito , indicar caminhos, navegar e até mesmo ler mapas – basicamente tudo o que exija visualização e manipulação de objetos em três dimensões é considerado um ponto fraco das mulheres pela ciência.

Pesquisas realizadas há décadas sustentam essa ideia. E, como habilidades ligadas a noções de espaço são importantes nas carreiras CTEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática), essa suposta deficiência às vezes é citada como uma das razões pelas quais as mulheres têm pequena representação nesses setores.

Até agora.

Essa narrativa popular tem um buraco. Será que essa diferença realmente existe ou ela está mais relacionada ao tipo de teste usado para medir a cognição ligada a noções de espaço?

Um novo estudo publicado na revista Psychological Science de setembro deste ano traz um fato novo: Pesquisadores finalmente descobriram que mulheres têm melhor desempenho em testes para medir habilidades espaciais.

Em outras palavras, homens e mulheres podem ser iguais no que diz respeito a essa habilidade cognitiva – mas temos feito testes que podem colocar as mulheres em situação de desvantagem, diz Margaret Tarampi, da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara.

Tarampi e suas colegas pediram que 135 universitários fizessem um teste para medir suas perspectivas espaciais. O teste pedia que cada estudante visualizasse vários cenários e pensasse na localização relativa de diferentes objetos de uma perspectiva que não fosse a sua.

Alguns participantes fizeram a versão tradicional do teste, com instruções que o definiam como uma tarefa espacial. As instruções notavam explicitamente que os homens costumam ter melhor desempenho que as mulheres nesse tipo de teste – e, de fato, foi o que acabou acontecendo.

Mas aí os pesquisadores fizeram algumas mudanças no teste. Algumas perguntas foram reescritas para ser sobre a pessoa, não sobre o objeto. Em outros casos, eles notaram nas instruções que esse era um tipo de inteligência social em que as mulheres tendem a ter melhor desempenho que os homens.

Nessas versões, as diferenças entre os gêneros sumiram: as mulheres tiveram resultados semelhantes aos dos homens. Além disso, a performance deles continuou a mesma a despeito da versão do teste recebida.

É importante observar que as versões revisadas do teste ainda mediam os mesmos princípios básicos da versão original. As mudanças foram feitas apenas no nível da superfície – junto com as novas instruções --, mas o resultado foi uma performance muito melhor por parte das mulheres.

“Nossa pesquisa sugere que podemos estar subestimando as habilidades por causa da maneira como medimos o pensamento espacial”, disse Tarampi em um comunicado. “Dado que a entrada e a retenção em disciplinas CTEM é afetada por nossas capacidades espaciais, podemos estar limitando desproporcionalmente a acessibilidade desses campos para as mulheres, por causa dos métodos usados para medir as habilidades espaciais.”

É possível que homens e mulheres tendam a usar diferentes processos mentais para resolver problemas espaciais. Repensar as perguntas do teste para incluir elementos sociais pode ter permitido que as mulheres resolvessem os problemas do seu próprio jeito.

De fato, a versão social do teste de tomada de perspectiva pode ser ainda mais ecologicamente válida. Na vida real, é muito mais comum que tenhamos de assumir a perspectiva de outra pessoa do que de um objeto. “Há quem argumente que os seres humanos são naturalmente seres sociais e que somos construídos para processar informações socialmente relevantes”, disse Tarampi ao The Huffington Post.

A idéia de tomada de perspectiva decorre de um experimento bem conhecido na década de 1940, conhecido como a tarefa das três montanhas. Crianças observavam um modelo físico de três montanhas e decidiam como a seria vista por uma boneca colocada em uma posição diferente.

Crianças com menos de 4 ou 5 anos são tipicamente incapazes de assumir a perspectiva da boneca, mas as mais velhas conseguem imaginar como a cena seria vista por uma pessoa que a observasse de outro ângulo.

Embora a tarefa das três montanhas tivesse um aspecto espacial e social, em algum momento as pesquisas posteriores se dividiram. Um ramo se concentrou nas implicações para a empatia e a teoria da mente; outro, na medição espacial, disse Tarampi.

Outro fator que pode obscurecer as verdadeiras habilidades nos testes é a chamada ameaça do estereótipo. As descobertas de Tarampi ecoam vários estudos anteriores que mostram que o desempenho em testes pode ser influenciado pelos estereótipos aos quais os participantes são apresentados.

Quando as mulheres são levadas a acreditar que são melhores do que os homens em rotação mental, ou quando são convidadas a se identificar com o estereótipo dos homens por apenas alguns minutos, elas têm pontuação tão alta quanto a os homens em testes de rotação mental.

Em testes de matemática, somente o fato de fazer o teste sob um nome masculino pode melhorar o desempenho das mulheres.

A cultura e gênero também podem ter influência. Examinando duas tribos no Nordeste da Índia, os pesquisadores descobriram que as mulheres da tribo matrilinear faziam exatamente o mesmo que os homens em tarefas espaciais, enquanto as mulheres da tribo patrilinear ficavam atrás dos homens.

Fonte: HuffPost Brasil


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